FELIZ NATAL
E UM ANO NOVO
FELIZ A TODOS
OS AMIGOS BLOGUEIROS!
Voltamos em 2012
Um abraço a todos os amigos,
Yayá
É um blog com artes e contos, crônicas, comentários, imagens e, arteiros em geral
FELIZ NATAL
E UM ANO NOVO
FELIZ A TODOS
OS AMIGOS BLOGUEIROS!
Voltamos em 2012
Um abraço a todos os amigos,
Yayá
Fica publicada essa minha composição:
Samba da Hora
Composição: Yayá
Canto: Wanilzey Castro
Arranjador ao piano: Bernardo Manita
Audiocake Estúdio , nov.2011
A deusa espera sentada
Que o jovem faça um pedido,
E atenta, se ergue à calçada
E acena ao pobre mendigo.
Descrente e triste, mal dada
A esmola aos pés do encardido,
Cancela o olhar à sacada.
Acima, o véu branco estendido
Que roga à crença versada
Ao sol, manhã do sofrido
Luar vivido, noitada
Imprópria de um desvalido.
Se erguesse o olhar, procurava;
O chão, por certo, é varrido
No tempo seco, sem água.
A deusa o espera, cansada.
Quem crê, vê e pede a chamada,
Mas pede. O orgulho ferido
Impede a ajuda cordata,
Amparo de hora e juízo.
Um fato triste, esse nada
Negado, um rasgo vencido
Que ilude a vista cansada
De dó e se apena um vestígio
De fel à mente fechada;
Cilada e dor sem fascínio
Na crua infância furtada
Dos sonhos desse menino.
Duas mulheres foram ao clínico geral pelo mesmo motivo: halitose crônica.
Chega a primeira paciente, de estatura média, rechonchuda, trajando calça jeans e camiseta sem mangas. Devido á roupa justa, as gordurinhas ficavam a mostra por sob a blusa de algodão, embora não fosse decotada e o colo estivesse bem coberto. Sentou-se na sala de espera, aguardando a vez da sua consulta.
A segunda paciente, também de estatura média, também trajando a mesma roupa, com a diferença de que era uma mulher de belas formas, sentou-se na sala de espera.
As duas mulheres tinham a mesma idade. A primeira trabalhava numa empresa de informática e ela ficava sentada o dia inteiro em frente à pilha de computadores, verificando os defeitos e os consertando. A segunda era professora de educação física esse exercitava o dia inteiro.
Ambas compravam as suas roupas na mesma loja, eis o porquê da semelhança nas roupas. Trabalhavam em bairros diferentes e tinham vidas diferentes.
O médico chama a primeira mulher. Faz a consulta, prescreve uns exames para descobrir a causa da halitose, além de limitar o consumo de alguns alimentos provocadores do estômago. A mulher agradece a atenção dispensada e ele leva a mulher até a saída, sorrindo e dizendo para ela não se preocupar que a questão estaria resolvida na próxima consulta.
A primeira paciente esperaria a segunda para irem até a loja de roupas e fariam algumas compras porque era o seu dia de folga e da outra também.
O médico chama a segunda mulher. Repete o procedimento com o qual tratou à primeira, as mesmas prescrições. A segunda mulher agradece a atenção dispensada. Mas, à saída, pede à segunda mulher que procure outro médico porque ele era um homem de respeito. Ele mesmo indica o colega da clínica para atendê-la.
A segunda mulher, em respeito à primeira, fica quieta até irem ao ponto de ônibus.
_Eu achei estranho o modo como ele tratou você, mas você sabe que isso faz parte do código de ética deles? Eles não podem se sentir constrangido com a presença do paciente. Eles não podem ter vínculos afetivos ao tratarem, ou, ao menos, não deveriam. Não se ofenda, antes entenda que você causou um impacto que prejudicaria o seu tratamento. E é difícil este aceitar. Eu mesma, mal comparando, quando levei o meu cachorro ao veterinário, tive que mudar de profissional. O veterinário disse que eu o lembrava de uma garota que estourava o saco de pipocas em frente à casa dele todos os dias e provocava o cachorro.
A segunda mulher preferiu não comentar. Seguiram juntas sem tocar no assunto até a loja de roupas.
Era uma turma de moças humildes que aprendia a fazer renda de enfeitar e de tecer. O curso era ministrado por professoras também humildes, mas que faziam a mais bela renda do sertão. O curso era ministrado numa sala da Igreja de Nossa Senhora da Conceição.
Em meio às rendeiras iniciantes, havia desde jovens acompanhadas das mães e idosas em busca de um dinheiro a mais para a subsistência da família. Cada uma com a sua história e os seus problemas devidamente compartilhados durante a aprendizagem.
Havia a pausa no meio da tarde para um lanche com bolo e refresco de frutas, colhidas nos quintais, ou doados pelos fiéis. Depois do lanche, a religiosa vinha para ler e comentar um texto bíblico.
Uma jovem de 16 anos, mãe solteira, magoada com a vida, protestou:
_Irmã, por que a senhora prega o bem, quando nessa vida que levamos o mal vence? A senhora não vê que o mal me venceu? Eu sou mãe solteira, tenho um filho de um homem que não quis saber de mim. Irmã, eu não vi o bem vencer.
A irmã sorriu com ternura e discrição:
_Minha filha, pois eu vejo Deus e a sua imensa bondade em você. O seu filho está no seu colo e você o amamenta. Procurando o ofício de rendeira, você irá criar e educar a criança e, embora jovem, você se preocupa com o que o seu filho pensará desse abandono. Não consigo ver o mal, me perdoe.
Uma senhora, idosa, observando o que a irmã dizia à jovem, pediu a ela que falasse do mal.
_Em todas as igrejas a gente ouve o bem. Eu gostaria que a irmã nos falasse do mal. Qual a sua visão, irmã, sobre o mal?
A irmã se compôs e concordou.
_Hoje, então falemos do mal. O que é o mal? É tudo aquilo que nos afasta de Deus, que, para mim, é o Bem com B maiúsculo. Como é esse afastamento? Igual a qualquer outro comum na vida de todos nós. Quando um vizinho se muda, no começo perguntamos por ele aos conhecidos, mas depois, com o tempo, apenas esperamos que ele estivesse bem, nas raras vezes que alguém nos lembra que ele foi nosso vizinho. Assim é com o bem, ou com Deus, o mentor da minha vida religiosa e da minha vocação. O mal é enganador, então esse é o primeiro passo para o afastamento do bem, você engana o seu próximo e não te acontece nada porque você não descumpriu a lei e, reparem que a lei divina é diferente da lei dos homens. E, a cada enganação bem sucedida, você não vê o bem porque o mal praticado, digamos que “deu certo” e o outro, o enganado, é que é um bobo. E, à medida que o mal funciona, o ser que o pratica não mais pede o bem, ele pensa que é um pensamento para os crédulos. Mas chega o dia, como vem para todos os humanos, em que o Ser Superior é necessário e aquele que pratica o mal não consegue sequer pedir. A essa altura, o mal feito está arraigado no seu íntimo e ele, o enganador, o aconselha a não pedir porque de nada adiantará. Para que pedir, qual é o sentido de pedir, se ele fez mal durante muito tempo, se a vida dele é ser mau. Ele precisará rever a sua vida antes de pedir. Quem procura o bem, o encontra, seja por rogar a Deus, seja por praticar o bem; digo desta maneira porque atinjo a mais pessoas que desejam o amor, que buscam incessantemente o bem estar das pessoas que estão em volta; digo também das pessoas amáveis, porque um relacionamento sem amor não serve aos propósitos divinos porque Deus é, antes de tudo, Amor.
As senhoras presentes ficaram estupefatas pela maneira como a religiosa decorreu sobre o tema proposto. Muitos a parabenizaram e ela humildemente disse que para essa função estudava continuamente, para falar do bem e também, discordar do mal. A irmã, se retirou com um sorriso austero e terno, para continuar os seus estudos, mas a sala era um sorriso de ternura para com ela
A maratona me acorda,
Com seus atletas ligeiros
Ao aquecimento, e me informa
Que todos veem os primeiros.
Dada a largada da prova,
O povo espera em canteiros,
Incentivando-os agora,
Com seus cantis costumeiros.
O vencedor não demora;
Em duas horas os beijos
Vem à vitória, e a devora
Com seu troféu de desejos.
Mas, acordada, se alonga
Pela avenida os folguedos
Que o entusiasmo prorroga,
Ao situar companheiros.
Dia da Bandeira Nacional 19/11/2011
Hasteia a bandeira com fé no Brasil,
Ao verde, azul e amarelo brilhante,
Co’a faixa branca ao progresso gentil;
Cordial nação de tamanho gigante...
E canta o seu hino de lindo perfil,
Novembro. Nesse seu tempo vibrante
Que encanta o dia todo nessa afeição
De honroso gesto ao sentido constante.
E lembra às praças de esporte e palácios,
Que nesta festa a alegria é convenção,
E a todos move na imensa afeição.
Bandeira pátria é motivo de laços,
Os quais se dão por afetos e abraços
Em terras, águas e céu de canção.
Meus Ilustres Desconhecidos/ Crônica
Todos nós conversamos anos a fio com os nossos desconhecidos preferidos, o motorista da lavanderia, a balconista da loja onde habitualmente fazemos compras, aquela professora simpática que encontramos na livraria; enfim, uma série de pessoas que não sabemos direito quem são.
Essas pessoas são as mais importantes, não são amigos e amigas de conveniência, não são pessoas que temos obrigatoriamente que tratar bem e são pessoas que fazem parte do nosso cotidiano involuntariamente. São abraços invisíveis com as quais trocamos abraços e fazem a alegria do nosso dia.
Eu não tinha percebido o quão importante eram essas pessoas até hoje. Também não tinha percebido que era uma dessas pessoas na vida dos outros.
Mas eu ganhei três presentes de uma moça, casada e com filhos, que trabalha numa loja de pequeno porte. Foram presentes escolhidos no seu mostruário.
Hoje pensei em dar uma lembrança para essa minha amiga invisível. Comprei e entreguei a ela.
Nesse momento particular, creiam-me: sentimos-nos parte do universo. Acima do bem e acima do mal. Não estávamos sós, ninguém é tão sozinho nesse planeta que não tenha uma irmã de coração.
O marido dela se comoveu e, hoje, ele me deu uma lembrança. Eu disse que não, que hoje eu queria apenas retribuir o carinho recebido o ano inteiro da esposa dele. Ele, com a voz contida, disse:
_Toma. Leva. É o meu obrigado.
Fica o sorriso de coração a coração trocado abertamente para o resto das nossas vidas. Felizes somos nós quando temos uma experiência de amor tão significativa.
Maria se esqueceu de fazer o dever de casa porque passou a tarde brincando na casa de uma amiga. À noite, no quarto onde dormia com a irmã, acordou num repente de susto pensando no dia seguinte, na professora e na aula.
Acordou a irmã, Ana e disse que estava nervosa porque não havia feito o dever de casa.
Ana disse a ela que o fizesse de manhã cedo, enquanto tomava o café com leite.
_Não dará tempo! É muita tarefa.
Ana disse a ela que não se preocupasse porque ela ajudaria nas respostas, que para ela, eram do ano retrasado. Era a irmã mais velha.
Maria se entusiasmou e perdeu o sono, mas Ana queria dormir. Assim começou o bate-rebate de conversas até que Ana se exaltou:
_Fique quieta que eu quero dormir!
Maria, zangada, respondeu:
_Então não falo nunca mais com você!
Ana retrucou:
_Ótimo! Assim eu durmo.
Maria olhou para a irmã e com um gesto de se calar fingiu ter zíper à boca.
Ana fechou os olhos a cochilar, quando ouve a irmã:
_Mamãe! Por favor, venha aqui no nosso quarto.
A mãe levanta-se e abre a porta do quarto das meninas. Maria diz:
_Mamãe, estamos com um problema de relacionamento e um problema de estudos dentro desse quarto.
A professora fala sobre os animais de estimação durante a aula e conta sobre as doenças que os cães e gatos transmitem aos seus donos por excesso de carinho na convivência.
Ouve-se uma voz no fundo da sala:
_Está na hora da mamadeira do gato, professora! Diz a frase mostrando o relógio, está quase na hora do recreio.
A professora, atenta, pergunta:
Você tem gato, Maria?
Maria fica com medo de ter falado na hora errada:
_Não, senhora professora.
A professora pergunta:
_Você sabe se os gatos mamam Maria?
Maria responde:
_Mamam na mamadeira, professora.
A professora, curiosa, pergunta:
Alguém na sua família tem gato, Maria?
Maria diz que não.
A professora pergunta de onde ela havia tirado a idéia de que os gatos mamam?
Maria, sem ter o que responder, diz:
_Às vezes, aparece um gato na nossa sala de visitas, e a mamãe diz ao papai para tirar o gato da sala.
Toca o sinal do recreio. Ufa!
O outono veio para ficar;
Os meses vão, mas ele, não.
Casaco, luvas a secar,
Sapatos úmidos, fogão...
Não esquenta. E o tempo devagar
Se instala à sombra do verão.
Preguiça de ir e se guardar
Na chuva fina de um senão.
O vento sul quer cadenciar
O oposto ao amor da imensidão
Salgada ao sol, ao se deitar
No acaso d’ouro à cerração.
O sonho segue a idealizar,
Querendo apenas a alusão
Suave à lua p’ra inovar
O nobre espanto da razão.
Em brumas densas navegar
No sono leve; a variação
Bem vinda nesse liberar
Do outono a dor, que ainda é emoção.
Alguém pode me explicar uma anotação do número 9 na minha conta de luz? Fui pagar a conta e a moça escreve nove.
Eu perguntei o porquê dela fazer isso e ela me disse que estava contando as contas de luz!?
Eu tive vontade de dizer: apague e ponha o número na conta de outra pessoa. Por que anotar um número na minha conta de luz? Eu não sou exotérica, não coloco nos objetos significados inúteis.
Porque será que as pessoas se apegam a coisas sem sentido?
Nesse desabafo vale uma minicrônica:
Certa vez fui à dentista, era jovem e, entre um dente e outro, disse que certo tom de esmalte me trazia sorte.
A querida dentista disse que eu deveria mudar o esmalte e combater a insegurança natural do crescimento. Era natural que eu procurasse um apoio, mas esse apoio deveria vir de mim e da minha afirmação enquanto adulta, jamais colocar em objetos um poder desnecessário.
Por ela, nunca mais li horóscopo e desprezo a numerologia. Respeito quem é inseguro, não foi à mesma dentista.
Mas que ninguém marca nada à toa, ninguém...
Obs. A conta de luz está em dia, neste mês sem greves.
Clichê
As razões que me levam a entender
O clichê vem das pedras dos caminhos,
Que, pisadas, revelam-se num doer
D'uma culpa que insiste em nós, sozinhos.
Solidão sem desculpa vem bater
Através dos vis casos tão mesquinhos
Na cobiça do cargo. Acena ao ser
Como a trilha de afagos e carinhos
E socorre aos desejos de se obter
O impensado, ou, um coitado ao torvelinho
De emoções insensatas. Vai chover
No destino da talha azeda ao vinho.
Não se acusa o mais fraco pra vencer,
Não se acusa o mais forte de daninho;
A verdade se busca a esclarecer
E, o culpado se mostra ao desalinho.
Fortifica a inocência a se manter
Na distância correta desse ninho
De perfídias, e vê o que vai fazer,
Porque vento não volta ao redemoinho.
Alfazema em vento sopra,
E o seu aroma lembra o campo,
Delicada flor que aflora
Em lavanda azul-romã.
Antisséptica é senhora
De um remédio feito flanco
De costume, e a moda voga
Consumida em óleo brando.
Bailarina à sorte nova,
Prestativa ao desencanto:
Se, a tristeza deita e rola,
Findará no quotidiano.
Cultivada nesse agora,
A esperança nasce ao manso
Desencontro vindo à prosa,
Costurando um doce manto.
De nada vale ler sem compreender,
E todo o livro técnico me é inútil,
E todo o livro lírico é acender,
E a chama inflama a paz que finda o dúbio.
Doar um livro é a calma de acrescer,
Talvez a luz que leva e traz um júbilo
Na volta, acaso e forma de absorver:
A rosca não resiste ao parafuso...
Que surja um novo sol preciso e súbito,
De raios diversos e outros, ao preencher
Lacunas, prumo sério de olhar puro,
E explique, ensine o que isto quer dizer.
Somando livros, vistos em anúncio,
Divido o nada e espero surpreender
No instante exato ao fiado desse culto
Na infinda busca e mescla de um saber.
Irene era empregada em uma casa no bairro do Brooklin em São Paulo. Tarefas iguais, cansaço igual, comida igual, mas diferente a cada dia da semana.
Foi em meio à rotina que ela se deparou com aquele ponto brilhante num azul topázio. Logo pensou que a dona de casa perdeu uma pedra de algum dos seus anéis.
Aproximou-se do ponto azul brilhante e verificou tratar-se de uma mosca, uma mosca azul com raios prateados. Lembrou dos ensinamentos da sua mãe que dizia para não se aproximar e não tocar se visse a tal mosca. A mãe dela falava que era veneno, cianureto.
Irene estava frente a frente com a tal mosca. Uma mosca miúda e delicada, com olhos pequenos e asas prateadas. A mosca não voava, estava parada como se posasse para uma fotografia.
Conforme a sua mãe havia ensinado, a mosca não voa sobre os alimentos. Ela espera e seduz a vítima que morre ao tocá-la, como por um encanto que tão rara presença produz ao ser vista e pela beleza de tão leve ser.
O céu, quando azul, tem a beleza do vôo perfeito para pássaros e aviões; o mar, quando azul, passa a certeza das águas limpas e transparentes; o pássaro azul indica boas novas à felicidade; são tantos azuis exemplares e bons que a maioria das gentes não pensa nesse minúsculo e instigante inseto mau, não porque queira, mas porque a natureza assim o definiu.
Irene fixou os olhos em todos os detalhes fascinantes; desde as patinhas elegantemente trajadas de azul, os olhinhos que olhavam para ela, as asas prateadas. Pegou o primeiro objeto quadrado, consistente e duro que encontrou por perto e, acertou a mosca em cheio. No lugar da mosca, restava sobre a mesa um visgo azul, cianureto, que ela não poderia tocar. Pegou luvas, pano, juntou os restos da mosca e jogou no lixo as luvas e o pano com um pequeno borrão azul brilhante.
Contou para a patroa:
_ Todos encontraremos algum dia com a mosca azul em São Paulo, não podemos nos deixar seduzir.
A senhora ria da Irene. A empregada não precisava se desculpar por jogar fora um par de luvas e um pano multiuso, que deviam ter caído em algum lugar onde a limpeza era pesada.
E, assim por diante, a todos a quem contava a história da mosca, as suposições eram variadas, de acordo com o gosto do interlocutor. Houve até quem discutisse se era um crime ecológico matar a mosca azul.
_Deus me livre! Dizia Irene ao ouvinte.
Irene, por fim, não mais contou a história da mosca azul a ninguém. A história era caprichada demais para ser considerada como verdadeira. Tão apaixonante quanto à mosca azul, encantava os ouvintes e os distanciava do fato em si.
Irene verificou o quão perigoso era o veneno da mosca azul, se até mesmo em forma de história, perturbava gravemente o sentido crítico do ouvinte...
Omissão
Quem se omite quando precisa dizer
Onde a falha grita, não sabe a criatura
Que protege; esconde-se desse mister
De reveses, vezes sem fim, na aventura.
O silêncio soma fraquezas ao obter
Desavisos múltiplos sob a ruptura
De intenções não ditas, ocultas ao ser
Contemplando um risco em meio à desventura.
Benefícios vários se mostram e vêm
Dos cuidados que abrem os olhos à vista
Na distância justa conforme convém.
Prevalece o gesto que pinça de alguém
A bravura ciosa de afeto que pisca,
Um sorriso ao abrigo que o amor avalia.
O vento muda a direção
De certos ramos, abraçando-os
Em formas cônicas; fração
Da tarde quente balançando.
Os galhos curvam-se em razão
Do vento débil, maturando
Os frutos novos à invenção
Das chuvas próprias de verão.
E crescem tortos; distorção
Forjada e rasa no desmando
Em curvas nessa divisão
De sombras clássicas ao chão.
Que nesse tempo a viração
Não venha o jovem à criação
Com muitas pedras sem caução,
Inverso fardo do educando.
Curta
Que gente ingênua! Como foi que não entenderam como eles se casaram?
O pai e a mãe da noiva, instrumentistas amadores. A moça cantava na voz soprano em todas as festas familiares.
O pretendente era distinto, mas de nacionalidade diversa. Durante um ano ou mais, eles se encontravam nas reuniões, conversavam e o namoro não acontecia, para decepção de ambos.
Foi uma festa o começo de tudo. A música parou, mas um parente dele, com um violão na mão, o acompanhou, sem imaginar que estava modificando toda uma resistência pré-concebida.
Com toda a coragem do mundo, ele postou-se em frente aos convivas e cantou, dirigindo o seu olhar àquela soprano:
A Casinha Pequenina
Tu não te lembras da casinha pequenina
Onde o nosso amor nasceu, ai ?
Tu não te lembras da casinha pequenina
Onde o nosso amor nasceu ?
Tinha um coqueiro do lado {
Que coitado de saudade {bis.
Já morreu. {
Tu não te lembras das juras, oh, perjura,
Que fizeste com fervor, ai ?
Tu não te lembras das juras, oh perjura,
Que fizeste com fervor ?
Daquele beijo demorado {
Prolongado que selou {bis
O nosso amor. {
Não te lembras, ó morena, da pequena
Casinha onde te vi, ai ?
Não te lembras, ó morena, da pequena
Casinha onde te vi ?
Daquela enorme mangueira {
Altaneira onde cantava {bis
O bem-te-vi. {
Não te lembras do cantar, do trinar
Do mimoso rouxinol, ai ?
Não te lembras do cantar, do trinar
Do mimoso rouxinol ?
Que contente assim cantava {
Anunciava o nascer {bis
Do flâmeo sol. {
Ele cantou, ela sorriu. Esperou o sogro, a sogra, os futuros cunhados e os acompanhou até em casa, pegando na mão da moça de vez em quando. Se não cantasse, não receberia a aprovação!
Tem dias que penso que a malícia dos dias de hoje é mais que viseira, a malícia cega e contamina os corações.
Dalter
Revagliatti
Tallarico
Una mano
más una mano
no son dos manos,
son manos unidas.
Une tu mano
a nuestras manos
para que el poema
no quede en pocas manos
sino en todas las manos.
GONZALO ARANGO
Una breve muestra
Dejá que entre la luz,
dejala que entre,
que se acomode,
que abra su valija;
no vayas a echarla;
dale de comer;
dejá que ande por la casa.
EDUARDO DALTER
SIGA LA FLECHA
Aquí donde he llegado
no sé qué es
Sé que
sin saber a dónde
he llegado
he sabido
dirigirme.
ROLANDO REVAGLIATTI
UNA ENTREVISTA DE TRABAJO
Yo quise traspasar el umbral de los cerdos.
Comí con ellos bajo el espíritu de las edades,
con la parte cautiva de mí,
con mis orígenes de pobre tipo fiel.
Fue inútil: la verdad, como una rosa fría,
sangró por mi boca.
JOSÉ EMILIO TALLARICO
Agradecemos, desde ya, a quienes quieran y puedan difundir esta gacetilla.
Nada melhor para me esquecer de mim mesma e deixar tudo de lado por algum tempo, do que uma boa leitura por fazer.
Se o livro é premiado e você conhece o escritor, melhor ainda. Agora, se você frequentou uma Oficina de Criação de Textos literários com o escritor, imperdível. Reler o livro já lido e perceber uma nova nuance numa segunda leitura é uma vontade e, porque não dizer, quase uma obrigação.
O livro do jornalista, escritor e crítico de literatura José Castello preencheu a minha fuga com sucesso. As angústias e os questionamentos escritos em forma de uma carta que não será lida, é forte e tocante.
O livro de José Castello trata de um diálogo impossível à época da sua infância e mocidade:
_ “Certos fatos que se percebem, de acordo com a boa educação, não se repara, não se comenta e muito menos se critica; ignora-se. Também, por uma questão de respeito e dignidade, não se permite a conversa sobre o assunto, desvia-se dele ou se interrompe o diálogo. Importa a vida que levamos e cada um que cuide da sua vida.”
O prêmio, imaginando-me em Kafka numa transformação exotérica na qual eu tiro o avental, sem o qual eu não frito o arroz, e, me transformando em crítica literária, numa ousadia extrema, digo que: o prêmio se deve à sinceridade de propósitos com a qual o texto se fez livro.
Porém, a fuga, que é a arte do desencontro, deu lugar ao prelúdio, um encontro claro de plena espiritualidade. O livro do jornalista contém a partitura da música com a qual era embalado a dormir quando criança pelo pai, que também é o título do livro: Ribamar. Toquei e a cantei.
Certamente era costume da época. Veio-me à memória uma melodia de ninar, doce colo, doce lembrança de espelho, uma história diferente. Sempre discutimos o essencial à direita, à esquerda e o que mais viesse. Fiz a partitura, me emocionei e saí para continuar a fuga planejada. Encontrei uma amiga musicista com os filhos. O olhar do seu menino quando eu cantei a minha música de ninar, me emocionou. Abraçamos-nos e nos encontraremos para fazer um arranjo.
A fuga se fez prelúdio e encontros amigos diversos. A vida também é feita de encontros gratificantes.
Recebi um telefonema, talvez o melhor e o mais importante para uma reflexão:
_Sra. Yayá, a senhora fez uma reclamação?
_Sim. Fiz, confirmo.
_A senhora precisa saber que estamos agradecidos. Aqui na diretoria as informações que chegam são as relativas às diretrizes da empresa, somos um gigante da economia. Dificilmente a informação chegaria até nós, se a senhora não tivesse reclamado. As sugestões existem quando o cliente final vê alguma possibilidade de melhoria em nossos serviços. As reclamações, no entanto, dependem da atitude do consumidor. Elas não existem para que discutamos com o cliente, existem para que verifiquemos as falhas do nosso sistema.
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Foram duas reclamações em duas instituições diferentes em cinco dias úteis, vamos à próxima:
_Sra. Yayá, desconsidere a fatura enviada em duas cópias. Está tudo em ordem no nosso controle. O sistema de emissão de boletos falhou. Se, a senhora permitir, nós cancelamos a emissão de boletos para a verificação do nosso sistema que não pode enviar dois boletos de uma mesma fatura. Utilizaremos outra forma de cobrança para verificarmos no sistema como foi gerado o segundo boleto. Somos um gigante da economia, dependemos das reclamações para os controles fora da rotina.